Saúde Pública: um problema de comunicação

Saúde pública, um problema de comunicação.

Em se tratando de saúde pública podemos afirmar sem nenhum medo de errar que a boa comunicação faz parte integrante de qualquer boa política

O título deste artigo pode parecer mais uma tentativa de valorizar o papel dos comunicólogos na área da saúde pública. “Esses publicitários se julgam mais importantes do que realmente são. Para eles uma campanha de propaganda é tão importante quando qualquer medida sanitária”. Perdão, cara leitora, eventual leitor. Mas em se tratando de saúde pública podemos afirmar sem nenhum medo de errar que a boa comunicação faz parte integrante de qualquer boa política. O problema é que enquanto parece justificável que para confecção e aplicação de uma vacina se exija conhecimento técnico, a divulgação de um programa de saúde pública é um campo aberto para todo o tipo de palpite. Se para aplicar uma simples injeção seja razoável se esperar algum domínio técnico, para criar um anúncio, um comercial de televisão, um spot de rádio ou um banner na internet, basta se julgar “com jeito para a coisa”. E esse jeito para a coisa não passa, muitas vezes, da capacidade de palpitar.

“O Brasil já deu exemplos para o mundo de que é capaz de criar magníficas e exitosas campanhas de saúde pública”

O Brasil já deu exemplos para o mundo de que é capaz de criar magníficas e exitosas campanhas de saúde pública. Me permito não citar o Zé Gotinha que é um modelo internacional de qualidade, hoje já devidamente esculhambado pelo amadorismo. Mas posso me referir a outras campanhas feitas em diversas ocasiões, onde a propaganda teve a mesma qualidade das outras medidas de infraestrutura. É possível afirmar que os atuais baixos índices de vacinação se devem muito mais às canhestras campanhas de divulgação do que qualquer outro fator. Façamos, de saída, justiça à maravilhosa atuação dos profissionais da área de saúde, aqueles abnegados que apesar das difíceis condições de trabalho, prestam um serviço próximo da perfeição. Mas a eles é destinado o atendimento àqueles que procuram um posto de saúde, nada cabendo de responsabilidade na área de divulgação. Feito a ressalva, prossigamos. A divulgação das campanhas de vacinação estão ruins. Amadoras.

E – paradoxalmente – somos bons nessa área. Vou me permitir extrapolar um pouco a área da saúde, para dar outro exemplo atual e importante. O senso. Fui autor de uma campanha décadas atrás que foi modelo internacional, um sucesso citado como o estado da arte. Os mais jovens não conheceram. Mas era de uma simplicidade absoluta. Uma moça tocava a campainha de uma casa. Quem abria porta era então a artista mais conhecida do país. A pesquisadora levava um susto: “Regina Duarte”! E enquanto a pesquisadora anotava as respostas da atriz o locutor afirmava que o planejamento do governo dependia das informações colhidas pela pesquisa. E terminava com Regina dizendo: “abra a porta para o IBGE”! Resultado? O menor índice de rejeição no mundo. Depois tanto Regina como o IBGE traçaram caminhos diversos e o índice de rejeição já se encontra em níveis lamentáveis.

O que eu quero mostrar é que certas ações massivas necessitam de apoio da população que mistura um pouco de racional e muito de emocional em tudo que faz. Com um pouco de cinismo, mas muito de conhecimento humano, os publicitários dizem que as pessoas primeiro decidem fazer alguma coisa, motivada exclusivamente por mecanismos emocionais, para depois “justificar” sua atitude. E esse papel é dos profissionais de propaganda. Não de políticos. Para encerrar este artigo, que já me parece longo, eu diria que tenho esperança que no terreno da vacinação, tão importante para a saúde pública, o novo governo entregue a tarefa de motivar a população para quem entende do assunto. Não é querer demais.

Por Lula Vieira
Publicitário

 

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