Rastreabilidade dos alimentos: Para que serve?

A importância de monitorar as etapas da cadeia produtiva desse segmento.

Considerada uma forma eficaz de garantir transparência em todas as etapas da cadeia de produção alimentar, a rastreabilidade de alimentos é mais do que apenas uma tendência para assegurar a qualidade e a saudabilidade dos produtos. Ela cria um vínculo entre quem consome e empresa produtora, desde a matéria-prima até a chegada do alimento ao consumidor final.

Todos os estágios desse setor são vistoriados por órgãos de certificação para gerar dados sobre cada lote do produto. Através de dados registrados em códigos de rastreabilidade, o processo permite que cada lote do alimento seja monitorado durante a produção e o abastecimento por qualquer pessoa com acesso ao código, inclusive o revendedor e o cliente. Com isso, caso haja qualquer falha na cadeia produtiva, ela pode ser rapidamente identificada e corrigida, para evitar prejuízos à qualidade do produto.

Benefícios

A rastreabilidade de alimentos é a garantia de que a criação de um produto atendeu a exigentes normas éticas e de qualidade. Ela diminui as chances de que um alimento fora dos padrões de qualidade seja comercializado acidentalmente, reduzindo, consequentemente, a possibilidade de ocorrer propaganda negativa e recall de mercadorias.

Segundo o diretor executivo da PariPassu, Giampaolo Buso, mais do que um processo fundamental para o setor alimentício, a rastreabilidade de alimentos estabelece reputações positivas e credibilidade para todos os envolvidos na cadeia produtiva e é um instrumento de negócios valioso para atender as exigências do mercado atual.

“Outro benefício da rastreabilidade de alimentos é o fortalecimento da conexão entre cliente e empresa, promovendo visibilidade ao produtor rural e posicionando o revendedor como um ponto de venda de confiança”, destaca o executivo.

Gargalos

Segundo Buso, a cadeia alimentar, no Brasil, apesar de necessária, não é muito eficiente e demanda esforço coletivo daqueles que estão inseridos no segmento para uma maior eficácia em todo processo. “A legislação brasileira em relação à rastreabilidade, por enquanto, ainda é muito deficitária. Mas, aos poucos, vamos observando algumas evoluções nesse sentido, como o compliance, praticado principalmente pelos varejistas, que trouxe uma questão de ordem na cadeia de abastecimento”, observa.

Para ele, o mercado é muito grande e o volume rastreado ainda é pequeno. “Entretanto, fica claro que, no ambiente que vivemos no dia a dia, a rastreabilidade é uma consequência da organização das empresas. Ou seja, quando elas se organizam, se estruturam e controlam os seus processos, elas passam a ter, como produto de saída, a rastreabilidade”, pondera e acrescenta que essas ações minimizam um dos maiores gargalos do setor no País, que é o desperdício.

Nesse viés, um dos exemplos expostos por Buso é a diferença entre a organização nas Centrais de Abastecimento, como o Ceasa/Ceagesp, e os mercados varejistas. “Os varejos são bem mais organizados neste sentido, além da questão da preocupação com a qualidade e saudabilidade do produto, principalmente no caso das Frutas, Legumes e Verduras (FLVs), pois, se cliente/consumidor não ser sentir ‘atendido’ de forma satisfatória, ele reclamará, não do produto, especificamente, mas do mercado onde ele comprou o produto”, alerta.

Tecnologia

A digitalização é uma tendência em qualquer segmento ligado à produção, tanto no campo quanto nas cidades, sendo assim, o especialista lembra que aqueles que estão envolvidos na agricultura familiar também terão que organizar e se adaptar à evolução dos processos produtivos, dentro e fora da porteira.

“É importante valorizar a agricultura familiar, responsável por colocar comida no prato de parte significativa da população brasileira, porém, com esse movimento de organização dentro das empresas, o produtor é um empresário rural, e precisa se organizar para melhorar seu faturamento, reinvestir no negócio, contratar outros funcionários, entre outras coisas”, avalia.

De acordo com o diretor da Paripassu, com a pressão da sociedade para se produzir mais em espaços mais reduzidos, a implementação da tecnologia será fundamental para intensificar a produtividade por metro, hectare, etc. “Assim, a capacitação será fundamental, e a rastreabilidade é uma consequência de todo esse processo. Esse é o caminho”, analisa Buso.

Orgânicos e convencionais

Quanto às diferenças relacionadas à rastreabilidade dos produtos orgânicos e/ou convencionais, o executivo lembra que, basicamente, o que difere um do outro é a permissão de uso de produtos químicos ou não. “E essa diferença tem um certo impacto mercadológico na prática, pois quando um consumidor leva um orgânico, ele diretamente relaciona essa condição à qualidade, saudabilidade e segurança alimentar”, pontua.

“O que precisamos é, de uma forma mais assertiva, informar a esse consumidor sobre produtos convencionais, produzidos da maneira tradicional, que são tão seguros quanto os orgânicos”, afirma Buso. Para isso, segundo o executivo, é preciso trabalhar para reduzir o uso de químicos nos processos produtivos, e não apenas para melhorar a qualidade e a segurança dos produtos, mas também por uma questão de sobrevivência do planeta.

Por Luiz Octavio Pires Leal
Editor, titular da Academia Brasileira de Medicina Veterinária.

 

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