Insetos no combate à fome mundial
O Brasil tem um total de 135 espécies de insetos comestíveis, tem capacidade e clima para destinar 100% da produção para a exportação.
De acordo com Marcio Felix, Pesquisador do Laboratório de Biodiversidade Entomológica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz, em entrevista com Neide Diniz, um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a FAO, recomenda o consumo de insetos no combate à fome no mundo. (Canal da Saúde, 2022). O documento, lançado em Roma, Itália, inicia um programa que incentiva a criação em larga escala de insetos para reforçar a segurança alimentar. Os insetos são fontes alimentícias bastante promissoras na missão de prover a segurança alimentar humana em tempos de expansão populacional e escassez de recursos naturais, encabeçam nossa lista como uma das promessas dentre os “Alimentos do Futuro”. Por serem o grupo de maior abundância sob a face da Terra, os insetos estão presentes em todos os ambientes onde se produz alimento. De uma maneira ou de outra, estes pequenos organismos estão envolvidos na produção de alimentos, vegetal ou animal.
Os insetos apresentam alta concentração de proteínas, envolvem baixo consumo de recursos, contribuem muito pouco para a geração de gases de efeito estufa, são fáceis de se reproduzir, podem ser usados como alimentos para aves, peixes e gado. Seus excrementos podem ser reaproveitados como fertilizantes para a agroindústria. Outra vantagem dos insetos na comparação com os mamíferos e aves é o baixo risco de transmissão de agentes infecciosos. Apresentam alta taxa de conversão alimentar e precisam de seis vezes menos alimentos do que o gado para produzir a mesma quantidade de proteína, tornando-os uma opção mais sustentável. Diversas espécies de insetos possuem uma taxa de conversão de matéria orgânica em proteína muito alta. Alguns tipos de gafanhotos, por exemplo, produzem 1 kg de proteína a cada 2 kg de ração, o que é uma taxa de conversão muito maior que a do gado, por exemplo, onde são empregados 8 kg de ração para obter-se o mesmo montante de proteína na forma de carne. Além de excelente fonte de proteína, os insetos possuem também um elevado teor nutricional. Muitas espécies possuem uma quantidade de vitamina D elevada (aproximadamente 165 U.I. por 100g) bem como a vitamina B2 (0,66 miligramas /100 g), vitamina C (17,60 miligramas / 100 g) e Omega-3 (3,6 gramas / 100g). Como podemos observar, esta é uma excelente fonte nutricional, superando os alimentos convencionais como carne bovina, suína e até mesmo os peixes (revista pesquisa Fapesp, 2020).
A criação de insetos tem pouca exigência de espaço, o que minimiza extremamente a necessidade de desmatamento para expansão de áreas de pastagens, e viabiliza a implementação de unidades de produção em localidades pequenas e isoladas. Além da produção de insetos gerar montantes substancialmente menores de gases do efeito estufa e compostos poluentes, quando comparados a outras criações, pode ser muito útil no processo de compostagem de rejeitos, servindo estes de alimento aos insetos.
Calcula-se que por volta de 1900 espécies diferentes de insetos sejam consumidas ao redor do mundo e que cerca de 2 bilhões de pessoas façam uso de insetos na alimentação. Dentre os países que mais empregam insetos na dieta de seres humanos estão China, México, Tailândia, Laos e diversas nações africanas. Os mais consumidos são, em ordem decrescente: besouros, lagartas, abelhas e formigas, grilos e gafanhotos (e-book insetos, 2022).
Segundo o holandês Arnold van Huis, um dos principais pesquisadores no campo da entomofagia (o uso de insetos como alimento por seres humanos), a base internacional de dados Web of Science revela um crescimento exponencial no número e artigos acadêmicos publicados sobre o tema, sobretudo a partir de 2015. Van Huis é professor da Universidade de Wageningen, localizada na cidade holandesa de mesmo nome, e editor da publicação científica Journal of Insects as Food and Feed (revista pesquisa Fapesp, 2020).
Um dos negócios mais bem sucedidos é o da empresa holandesa Protix. A firma francesa Jimini foi uma das pioneiras, criada em 2012, e ela produz barras de cereais, massas e granolas sendo a base a farinha de insetos, além de petiscos feitos com insetos desidratados e temperados, como larvas de tenébrio.
A norte-americana Chirps importa matéria-prima para farinha, snacks e biscoitos da Tailândia, onde se calcula que existam 20 mil “fazenda de grilos”. Na Alemanha, a Bug Foundation vende hambúrgueres que levam 45% de uma mistura proteica feita à base de soja e de larvas de besouro (Revista pesquisa Fapesp, 2020).
No Brasil, a Hakkuna e a Ecological Food também estão apostando neste ramo. A bióloga e doutora em entomologia, Patrícia Milano, criou em 2016 a “Ecological Food” cujo negócio é a venda de insetos para a fabricação de ração animal, sendo que ela desenvolveu uma dieta específica para grilos e baratas. A Ecological Food fica em Limeira (SP), a cerca de 40 quilômetros de Piracicaba. Luiz Filipe Carvalho e Patrícia Milano seguem uma tendência mundial. É crescente o interesse pelos insetos como alternativa alimentar (e-book insetos, 2022).
O Brasil tem um total de 135 espécies de insetos comestíveis, tem capacidade e clima para destinar 100% da produção para a exportação. Os mais consumidos são Himenópteros (ordem das formigas), com 63% do total, seguidos pelos Coleópteros (besouros), com 16%, e os Ortópteros (gafanhotos e grilos), com 7%. O zootecnista Gilberto Schickler é produtor de insetos para alimentação animal, é o responsável técnico pela Nutrinsecta, uma das primeiras empresas (2012) do país a obter SIF, para o processamento de insetos direcionados à alimentação animal. Casé Oliveira tem uma marca própria, a Bugs Cook, para produzir chocolates artesanais com grilo, tenébrio e formiga (UNILA, 2022).
Excelentes perspectivas! Agora, resta convencer o consumidor brasileiro.
Bibliografia consultada
Site da Fiocruz no Canal da Saúde- Programa Exibido em 19/10/2022
https://www.canalsaude.fiocruz.br › canal › videoAberto
Revista pesquisa Fapesp Edição 290 abril de 2020
https://revistapesquisa.fapesp.br/insetos-comestiveis/
E-book_insetos, site do CRMV-RJ, produzido pela Sociedade Nacional de Agricultura
https://www.crmvrj.org.br/2022/06/sna-produz-ebook-com-o-tema-segundo-a-fao-onu-os-insetos-industrializados-sao-alternativa-fundamental-para-o-combate-a-catastrofe-da-fome-mundial-veja-o-que-dizem-os-especialistas/
Site da UNILA – portal.unila.edu.br – publicado em 26-04-2022.
https://portal.unila.edu.br/noticias/insetos-podem-ser-o-alimento-do-futuro
Por Ivana de Castro Carneiro
Bióloga, pesquisadora científica
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